sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Questionário como instrumento de recolha de dados-II

Um estudo de investigação parte sempre da formulação de hipóteses?
Pode-se considerar estudos que não partem da formulação de hipóteses. Na linha da frente deste paradigma estão os estudos biográficos, as histórias de vida e os estudos exploratórios.

Bogdan (1994:93) refere que a possibilidade de elaborar um estudo de caso ou de uma história de vida é determinada pela natureza do sujeito potencial. O investigador encontra uma pessoa que o impressiona como sendo alguém interessante e resolvem prosseguir o estudo. Este autor considera também os estudos comunitários e as análises situacionais dentro do mesmo tipo de estudos. Trata-se do estudo de casos típicos e o interesse do investigador é a possibilidade da generalização tal com ela é. Alguns investigadores reclamam o direito à generalização baseando-se em semelhanças com outros casos referidos na literatura.

Num estudo exploratório a utilização do inquérito como método de recolha de dados será uma necessidade reclamada pela própria proposta de investigação, a qual perspectivará também possivelmente desde cedo na fase de concepção os contornos gerais do dito inquérito (população/amostra, objectivos/questões). A dissertação analisada pode considerar-se um estudo exploratório. O autor fundamenta a sua opção quando se propõe, com o seu estudo, proceder à “recolha (...) dos dados relativos às atitudes e competências dos professores de Inglês das escolas do ensino secundário e secundário com 3º ciclo do distrito de Setúbal, em relação à utilização das TIC no ensino da língua inglesa” e, a partir desse conhecimento, identificar os factores que explicam a resistência/adesão destes professores ao uso das TIC na prática lectiva” (p.69). Se “determinar um conjunto de características positivas que possam constituir propostas e/ou recomendações para a formação inicial e contínua de professores de inglês em TIC.” O objectivo do estudo está dependente da caracterização resultante da aplicação do método mais adequado, o questionário.

População ou amostra? Como construir a amostra?

Muitas vezes é impossível analisar a toda população (por dificuldade de custo, tempo, logística e outros). Através de um inquérito a um número restrito de pessoas, com a condição de que estas tenham sido correctamente escolhidas, é possível obter as mesmas informações com uma margem reduzida de erro, a isto chama-se amostragem
Então, é necessário que a amostra apresente características idênticas às da população (universo), que seja representativa. Esta representatividade só faz sentido se as unidades constituintes forem escolhidas por um processo tal que todos os membros da população tenham a mesma probabilidade de fazer parte da amostra. Se tal não for o caso, diremos que a amostra está enviesada, pois certos membros tiveram mais hipóteses do que outros de serem escolhidos.

Para Hill et al (2002), “escolher um universo pequeno para trabalhar. Tal escolha evita as complicações associadas com a utilização dos métodos de amostragem” e, ainda, “A utilização de um Universo pequeno tem tendência a limitar a escala da investigação – o que talvez pareça uma desvantagem, mas, no nosso entender, não é desvantagem no âmbito de uma investigação académica (…) é melhor fazer uma boa investigação de âmbito limitado do que uma investigação fraca de grande escala e, normalmente, nem o tempo nem os recursos disponíveis que os alunos dispõem são adequados para fazer uma investigação de grande escala”.

Perguntas abertas /perguntas fechadas

Para Ghiglione e Matalon (1992), qualquer erro ou ambiguidade associados à construção do questionário, levará a conclusões erradas. Assim, é aconselhável que as questões sejam colocadas de modo a que sejam perfeitamente entendidas pelo inquirido. No que diz respeito à construção das questões, podemos encontrar dois tipos de questões: abertas e fechadas.
As questões fechadas podem ter várias formas e permitem uma análise estatística dos dados recolhidos. Já o uso de questões abertas obriga à análise de conteúdo (codificação das respostas), uma tarefa mais trabalhosa do que aquela associada às questões fechadas.

O trabalho de codificação faz-se em duas etapas: a primeira, através da análise de uma amostra, que conduz à atribuição do código próprio; a segunda consiste em fazer corresponder cada resposta a uma ou várias categorias do código. Um código deve apresentar várias categorias. Esta codificação permite o tratamento de questões abertas tal como fossem fechadas.
Escolher um questionário com questões abertas, fechadas ou com um misto dos dois tipos depende de vários aspectos, a saber:
1) Da natureza dos objectivos da investigação;
2) Da possibilidade de fechar as questões, de modo a analisar de forma mais apropriada as variáveis em estudo;
3) Do impacto que queremos criar no inquirido e da própria lógica do questionário.
Se se usar questões abertas no início, pode-se levar o inquirido a centrar-se na problemática, mostrando que a sua opinião é importante. Ao colocarmos o inquirido a responder às questões fechadas incide-se mais nas problemáticas que se quer analisar e obtêm-se respostas de tratamento mais específico e controlado.

Pré-teste e validade do questionário

O pré-teste do questionário é uma forma de verificação feitas a fim de se confirmar que a sua aplicação conduz a uma recolha válida e consistente com a investigação em vista. O investigador deve começar o trabalho de recolha de dado redigindo uma primeira versão, com as questões formuladas e ordenadas de maneira provisória, que deve ensaiar para confirmar que se adequa, se está legível e se não tem ambiguidades que falseiem o estudo.
O processo de pré-teste do questionário inclui duas fases: verificação das perguntas individuais e verificação do questionário como um todo no que respeita às condições de aplicação. A primeira fase pode ser executada com a colaboração de um pequeno número de pessoas pertencentes a meios profissionais diferentes do investigador. Nesta fase, o questionário será posto à prova, testando a forma de reacção dos inquiridos e a ordem mais adequada das questões, entre outros aspectos.
Esta reflexão permitirá ao investigador testar: a validade das hipóteses; equacionar interpretações possíveis; a codificação das perguntas abertas e as escalas possíveis para as respostas alem de muitos outros aspectos que variam de acordo com o estudo em questão.

Triangulação, em que consiste?

O conceito de triangulação foi apresentado, nos anos 50 e 60 do século XX, como uma forma de aumentar a validade de um questionário ou para reforçar a credibilidade dos resultados da investigação. Dexter (1970) afirma que nenhuma investigação deve partir de dados recolhidos numa só fonte. Defendendo que a triangulação constitui uma forma de reduzir o risco das conclusões apresentarem as limitações de uma técnica utilizada.

Denzin (1978, cit. por Carmo; Ferreira, 2008) assinalou quatro grandes tipos de triangulação: 1-Triangulação de dados – utilização de uma diversidade de fontes no mesmo estudo; 2-Triangulação de investigadores – utilização de vários investigadores; 3- Triangulação de teorias – utilização de várias teorias na interpretação do mesmo conjunto de dados; 4- Triangulação metodológica – utilização de vários métodos de estudo de um problema.
Na dissertação “Setúbal, as TIC e o Ensino do Inglês, a autora recorre a triangulação de dados. Os vértices do triângulo são: 1- o questionário realizado a todos os professores de Inglês do distrito, 2- as entrevistas aos alunos e 3- a observação de aulas de quatro professores. Estes três tipos diferentes de instrumentos de recolha de dados foram analisados e confrontados, numa estrutura-base orientada pelas cinco categorias de análise formuladas. Desta forma a autora salvaguarda a veracidade do inquérito, validando os resultados.

Bibliografia

Carmo, H. e Ferreira, M. (2008). Metodologia da investigação Guia para a Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.

Duarte, T.(2009). A possibilidade da investigação a 3: reflexões sobre triangulação (metodológica). CIES e-WORKING PAPER N. º 60. Centro de Investigação e Estudos de Sociologia. Lisboa: ISCTE.

Ghiglione, R. e Matalon, B. (1992).O Inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta Editora.
Hill, M. M.; Hill, A. (2009). Investigação por Questionário. Lisboa: Edições Sílabo.

Moreira, C. (2007). Teorias e Práticas de Investigação. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais e Políticas.

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