sábado, 15 de maio de 2010

A Entrevista e a Recolha de Dados em Investigação Educacional



1. Relação entre a aplicação da entrevista e os objectivos da investigação

Entenda-se a entrevista como uma conversação mais ou menos estruturada que pressupõe um indivíduo que questiona e outro que responde. No entanto, Valles (1999:178) citando Schatzman e Strauss, (1973) refere “ No campo, o investigador considera toda a conversação entre ele e outros como formas de entrevista…As conversas podem durar poucos segundos ou minutos, mas podem conduzir a oportunidades de sessões mais longas”.Este autor distingue a entrevista formal de uma mera conversa. A entrevista formal está orientada para os objectivos da investigação e caracteriza-se ainda por um conjunto de factores:

a) Na entrevista, a participação do entrevistador e do entrevistado conta com “expectativas explícitas” : um fala e o outro escuta;
b) O entrevistador anima constantemente o entrevistado a falar, sem o contradizer;
c) Para o entrevistado a responsabilidade de organizar e manter a conversação é do entrevistador (criando uma ilusão de fácil comunicação que faz parecer breves as sessões prolongadas).

Para que a entrevista seja o método escolhido para a recolha de dados, esta deve respeitar e potenciar os objectivos da investigação. A verificação dos dados fornecidos pelo entrevistado prende-se com a validade, a relevância, a especificidade, a profundidade e a extensão das respostas concedidas e registadas.
A validação faz-se normalmente por comparação com dados recolhidos noutras fontes, mas também pela relevância da relação da informação recolhida na entrevista com os objectivos da investigação. A especificidade dos dados fornecidos está ligada à clareza e objectividade dos mesmos, sendo que a profundidade está relacionada com as características físicas e intelectuais mostradas pelo entrevistado e, por fim, a extensão está directamente relacionada com a dimensão e características das respostas.

Uma investigação qualitativa está dependente de interpretações mais ou menos subjectivas, por isso deve reger-se por parâmetros que possam conferir-lhe rigor. Existem algumas formas de validar e dar o máximo de fiabilidade ao estudo, como por exemplo, a triangulação - encontrar convergência noutras fontes de informação, com diferentes investigadores ou diferentes métodos utilizados, com o feedback dos participantes no estudo e auscultação das suas opiniões relativamente aos resultados do estudo. Só os dados validados podem contribuir, sendo tomados em conta para a clarificação dos objectivos da investigação planeada.

2.Vantagens e desvantagens da utilização da entrevista enquanto técnica de recolha de dados

Em Investigação Educacional, a entrevista, como método de recolha de dados, será interessante em condições específicas. Opta-se geralmente pela entrevista quando o número de pessoas a inquirir é reduzido ou quando existem condições logísticas para a sua operacionalização.

Principais vantagens da recolha de dados por entrevista:

1- Há uma maior proximidade com a realidade a observar;
2- Tem-se a possibilidade de obtenção de certas variantes que podem escapar noutro tipo de recolha de dados, por exemplo, obtenção de dados de analfabetos ou pessoas de certo estatuto profissional (VIP);
3- Possibilita uma diversidade de questões e a sua adequação aos objectivos da investigação;
4- Favorece a eficácia das respostas: o entrevistador pode retomar as questões que eventualmente tenham sido mal percebidas;
5 - Permite que o entrevistador tenha um papel mais activo e interventivo na recolha de dados a investigar.

Principais desvantagens da recolha de dados por entrevista:

1- Pode haver má condução da entrevista e consequente recolha de dados indesejáveis;
2- A obtenção de demasiada informação com o consequente difícil tratamento, requerendo, normalmente, muito tempo para a transcrição, análise e sistematização da informação;
3 -Podem ocorrer enviesamentos provocados quer por uma actuação pouco cuidada do entrevistador, quer pelas respostas dos respondentes, que podem veicular apenas aquilo que é política e socialmente correcto;
4- Implica, normalmente, um custo elevado e grande disponibilidade de tempo;
5- Pode criar problemas de fiabilidade, atribuídas ao entrevistador, ao guião, à codificação das variáveis e, ainda, à escolha dos entrevistados participantes.

Bibliografia:

Carmo, H. & Malheiro, M.F. (2008). Metodologias da Investigação. Universidade Aberta.
Ghiglione, R, Matalon, B. (1994). O Inquérito: Teoria e Prática. Oeiras: Celta Editora
Valles, .M. (2000): Técnicas cualitativas de investigación social. Reflexión metodológica e práctica professional (2ª ed.). Madrid: Síntesis/Sociologia.
http://claracoutinho.wikispaces.com/investiga%C3%A7%C3%A3o+qualitativa+passos+fundamentais (acedido a 6-5-2010).
http://www.socialresearchmethods.net/kb/intrview.php (acedido a 6-5-2010).
http://fds.oup.com/www.oup.co.uk/pdf/0-19-874204-5chap15.pdf (acedido a 6-5-2010).
http://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/view/1089 (acedido a 6-5-2010).